"Gatos de Botas 2: O Último Pedido" é uma obra de arte

Nome original: Puss in Boots: The Last Wish

Ano: 2022

Duração: 1 hora e 40 minutos

Direção: Joel Crawford

Sinopse: O Gato de Botas descobre que sua paixão pela aventura cobrou seu preço: ele já gastou oito de suas nove vidas. Ele então parte em uma jornada épica para encontrar o mítico Último Desejo e restaurar suas nove vidas.

🐱🗡🌟

Quando assistimos um filme sem qualquer expectativa, somos surpreendidos com uma boa história. 

Vou tentar maneirar nos spoilers, embora seja difícil, pois assistir O Último Pedido foi uma experiência e tanto.

Fui ao cinema e senti que precisa colocar para fora tudo o que senti conforme assistir ao filme. Nunca pensei que fosse gostar tanto do filme do Gato de Botas. Fui com a família e gastei 122 reais nos ingressos, fora os 70 reais da pipoca e do refrigerante, mas não trocaria o que vivenciei hoje por nada. 

Parece que hoje em dia todos os filmes infantis de animação são medíocres ou péssimos, com pouquíssimas exceções nos últimos anos e isso está ficando cansativo. É sempre humor sujo ou um enredo fraco que faz os adultos revirarem os olhos ou adormecerem. Esta é uma das exceções. 

Digo com grande satisfação que Gatos de Botas: O Último Pedido é o melhor filme de animação de 2022 – 2023. 

Eu realmente amo a caracterização e o desenvolvimento do Gato neste filme. Ele é um indivíduo corajoso e encontrou identidade nisso. Mas, de muitas maneiras, ele não dava valor a isso. Ele viveu uma vida onde suas oito vidas eram descartáveis, onde não havia valor verdadeiro nelas, até a última! 

Então, quando o médico o confrontou sobre a realidade da situação, ele odiou. Zombou mesmo. Afinal, ele é o destemido Gato de Botas. O que seria de sua vida se ele não estivesse vivendo em perigo? Mas somente quando confrontado por um caçador de recompensas vindo atrás de sua vida, e sendo completamente dominado na batalha, ele realmente percebe a realidade e o valor de sua única vida. 

E, então, temos o encontro com um misterioso "caçador de recompensas".

E essa parte do filme me deu arrepios literais. A equipe de animação e visual fez um trabalho incrível mostrando o desespero de Gato, com seu cabelo arrepiado enquanto lentamente chegava ao rosto, e como ele estava disposto a fugir para se salvar. O tempo que ele estava disposto a levar para viver reflete muito o que os humanos fariam para viver, às vezes até fazendo coisas moralmente más também. 

Ele não era destemido, ele estava cheio de medo. Ele não era o Gato das Botas, era um gato assustado. Antes tínhamos um Gato ousado que nunca demonstrou fraquezas, e agora, vemos um Gato fugindo de seus temores e de seus medos, e o principal medo de todos que nos aflige: o medo de morrer.

Gato tem uma experiência traumática durante todo o filme, com o assobio característico do Lobo sendo um grande gatilho para ele, e é uma maneira tão ameaçadora de apresentá-lo à cena também. 

Falando no Lobo, ele é um antagonista tão ameaçador e aterrorizante, até mesmo porque, como o mesmo explica ele é a Morte. Sua presença e design de personagem são ótimos, mas o que o torna tão assustador é seu retrato visual misturado com a dublagem. O filme não teve medo de não atender às crianças e não ser limitado por isso. O que é um problema que tenho com alguns filmes, onde temas maduros não são aproveitados ao máximo devido a limitações. A maneira como ele se esquiva sem esforço dos ataques do Gato e instila medo nele é tão memorável e impactante. Digo sem sombra de dúvidas que ele é um ser aterrorizante que mantém um ar de inquietude do começo ao fim, e facilmente, um dos melhores personagens que a DreamWorks já criou. Ele não está munido de uma foice gigantesca como as mídias outrora nos acostumaram acerca da imagem da Morte. Aqui, o Lobo, Big Bad Wolf, a própria Morte usa duas foices pequenas, mostrando que seu objetivo é direto e pessoal. Lobo não é o vilão como vi em algumas resenhas, ele está mais para o fator que empurra e pressiona o Gato a fazer decisões em sua vida.

Gato sendo assombrado pelo medo da Morte é algo que precisamos levar em consideração também em nossas vidas. As pessoas adoram viver no presente, mas também não enxergam o maior problema da morte bem na nossa frente. 

 Preferimos não pensar nisso porque é uma realidade tão assustadora.  

Então, quando a vida nos atinge, somos como o Gato enfrentando a realidade da morte pela primeira vez. Estamos vulneráveis ​​e com medo. E nem todo mundo conta às pessoas como elas estão se sentindo. Algumas pessoas guardam para si mesmas, que é o que o Gato fez ao longo do filme até mostrar vulnerabilidade e expressar seus medos ao cachorro Perrito, que possui uma das histórias de fundo mais tristes do filme embora o mesmo sequer tenha consciência.

Kitty Pata-Mansa também retorna para a segunda película, e tem contas a acertar com o Gato, que traiu sua confiança mais uma vez.

A história em si é funcional, mas todos os personagens recebem arcos significativos e relacionáveis. Entre o melancólico Gato chegando ao fim de seus dias como um grande herói, seu sempre positivo ajudante de cachorro e as 3 partes antagônicas tentando alcançar o macguffin mágico, há muita coisa acontecendo e nada disso parece forçado. 

Os dois maiores trunfos que o filme traz são o humor e as impressionantes cenas de ação. Em primeiro lugar, este filme é mordaz, está de volta ao tom do primeiro filme de Shrek com muitas piadas que funcionam no nível de compreensão de crianças e adultos. Embora a história seja fácil de acompanhar para as crianças, os temas explorados são relativamente maduros e manterão os adultos envolvidos. 

Mesmo as pessoas mais poderosas ainda sucumbirão ao medo da morte quando a realidade as atingir. 

João Trombeta é um vilão interessante e cômico ao extremo e sua presença trouxe-me gargalhas genuínas.

Darei pequenos spoilers aqui, mas nada que prejudique a película. 

Cachinhos Dourados e os 3 ursos também foram personagens incríveis, onde ela procurava a estrela dos desejos por não ter uma família comum. Por "certo", ela queria e ansiava por uma família humana. Ela usou sua família adotiva como trampolim para alcançar seu objetivo de substituí-los, o que é trágico porque ela enfrenta um problema de inveja. Quando uma pessoa está cheia de inveja, ela não é grata pelo que tem e faria o que pudesse para obter o que não tem. 

Também adoro a construção até a eventual revelação de seu desejo. Ela apreciando os tempos mais simples com os ursos em sua casa foi tão emocionante. São as pequenas coisas que muitas vezes não são apreciadas, como como ela seguraria este livro de contos de fadas quando criança, onde quer que fosse, dormindo em uma cama confortável, tomando sopa com sua família adotiva e assim por diante. Às vezes, você só precisa parar e olhar ao seu redor. Você tem uma casa para viver as memórias dessa casa. Você tem comida e água. Você tem transporte para ir a lugares diferentes. Você tem fotos com suas famílias e amigos que você pode relembrar. Você pode até ir além disso e apenas admirar as complexidades do mundo. Como as árvores te dão sombra quando está sol, ou como o céu tem uma cor agradável e calmante, e até os animais e como todos eles são únicos. 

Há muito mais aspectos que eu realmente amo neste filme, mas vou parar por aqui. Eu definitivamente recomendo assistir. Não só tem nuances narrativas, mas o ritmo do filme também é bom. A cinematografia e a coreografia das lutas também são muito bem feitas. O roteiro está no ponto e a animação é um primor.

Gato de Botas: O Último Pedido combina o humor ousado de Shrek com as maravilhas visuais de Homem-Aranha no Aranhaverso e o segue ao longo de uma jornada de heróis relativamente amadurecidos chegando ao seu conto final que é mais próximo de Logan do que qualquer outra animação, como foi dito pela IGN. Eu acho... Ah, e apenas no caso (não que eu pessoalmente me importe muito com isso), não há nenhuma agenda política a ser encontrada aqui para ser uma distração da percepção como de uma "certa" empresa que faz animações por aí... 

Acho que nunca vi uma animação tratar temas tão delicados como ansiedade, transtorno pós traumático e tanatofobia de uma forma tão única.

Saí do cinema cantando "Fearless Hero".

Sinto que só estou me repetindo. Por fim, assistam! No cinema, obviamente. Esse filme vale cada segundo do seu tempo. Apoiem esta animação. Quero ver mais filmes como este no cinema.

Assistam esse edit abaixo que em poucas palavras é perfeito.