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O caso Helga Pataki


Hoje, irei escrever sobre uma personagem que muito intriga-me, desde que passei a assistir novamente os episódios de "Hey, Arnold!".  

Mas o que era o "Hey Arnold"? Hey Arnold foi um programa que girou em torno das aventuras cotidianas de seu personagem título enquanto ele tentava resolver problemas para seus amigos e familiares, ajudando-os a aprender lições de vida. Arnold era praticamente um conselheiro na série, resolvendo as mais diversas situações, seja sobre um homem que cuidava de pombos e nos deu uma lição final de quebrar o coração, ou um pai que teve que abrir mão de sua filha por conta dos horrores da Guerra do Vietnã. É... Hey Arnold não era infantil como pensávamos.

Ah, que saudoso desenho. Era aquele tipo de animação destinada à crianças, mas que continha pequenas gotas de mensagens ocultas que apenas os mais adultos poderiam entender. E quando eu era criança, não entendia certa mensagem por detrás do episódio, e agora que cresci, fico caçando easter eggs.

E as animações do passado eram muito diferente das animações de hoje, que são cheias de personagens histéricos, com hábitos repulsivos e zero lições de moral. Para se ter uma ideia, no passado, nos desenhos animados os personagens falavam palavras como "assassinato" e "morte", coisas extremamente proibidas devido ao politicamente correto.
E foi assistindo-o sem compromisso algum que acabei por reparar em uma das personagens e a tomei como a personagem mais complexa do desenho.

Tentarei falar sobre sua possível "antagonista", já que ela é tão complexa que esta alcunha não se aplicaria à ela tão facilmente.

Senhoras e senhores, estou falando dela. A garotinha de vestido e laço rosa, a garota  bruta, o pesadelo dos sonhos de Arnold...

... Helga G. Pataki. 

Bem sei que outras pessoas fizeram estudos muito melhores que este, sobre a personalidade de Helga, mas eu queria compartilhar o meu ponto de vista, por mais limitado que seja.

Helga é uma menina durona, rude, má e muito mandona, além de ter um temperamento explosivo. Ele é praticamente uma bomba-relógio ambulante. Quando encontra-se com seus amigos, apresenta uma personalidade terrível e um linguajar vulgar. Ela, até mesmo, destrata sua melhor amiga, Phoebe, várias e várias vezes, tratando-a como se fosse seu assecla.  

Ela comporta e age como uma valentona, intimidando a tudo e a todos.

É como se menina fosse uma montanha imparável de grosserias e arrogância, mas, por baixo de toda aquela máscara de moleca existe uma menina frágil, que exala poesia e que confessa seu mais profundo amor para um medalhão dourado.

E aquele quem mais sofre com seus ataques é Arnold, logo o menino da qual ela tanto ama.

Mas, por que isso acontece? Por que Helga tem atitudes tão mesquinhas na frente de outrem, escondendo sua verdadeira personalidade?

Helga age com maldade com Arnold pois quer ser notada por ele, sei que parece um péssimo jeito de chamar a atenção – e é com toda a certeza –, mas dê um desconto para ela. Helga só tem nove anos. Nunca soube o que era ser notada, e Arnold foi a única pessoa que a notou, retirando-a de seu estado miserável.

Toda a sua complicada história é explicada no episódio "Helga no sofá", considerado por muitos um dos especiais mais deprimentes de toda a série. Temos um especial inteiro nos mostrando como Helga tornou-se o que é. Desde pequena, seus pais a negligenciavam, somente dando apoio e atenção para sua irmã mais velha, Olga. No primeiro dia de aula da Pré-escola, Helga vai sozinha, passando por vários obstáculos para uma garotinha de sua idade. A única pessoa que falou consigo e mostrou ternura foi o pequeno Arnold, que dividiu o guarda-chuva consigo e elogiou seu laço cor-de-rosa. 

Pode parecer uma coisa insignificante, mas para uma criança que nunca soubera o que era afeto, aquele gesto tão simplório foi visto como uma bênção para ela.

Ela é invisível em casa, lidando com um pai narcisista e uma mãe que obviamente é alcoólatra, mesmo que nunca fique explícito por causa da faixa etária da animação. Na escola, todos tem medo dela – uma consequência dos seus atos –, e ela precisa a todo tempo mostrar que ela está "ali", sendo rude, ingrata, mesquinha, pois se ela não agir, logo ninguém a notará, ela se tornará invisível.

Assim como ela é em casa.

Acima de tudo, Helga quer ser vista, ouvida. Amada. E alguns de seus atos desesperados, tem consequências absurdas para ela. Há um episódio em que Helga quer parar desesperadamente de amar Arnold, pois sente ela só o faz sofrer (episódio: A poção de amor da Helga). Ela encontra o tal meio para encerrar seu amor por ele, mas sente-se vazia de sentimentos e volta atrás. Ou quando Helga tenta agir e comportar-se igualzinho como a Laila (episódio: Helga como Laila), pois quer conquistar Arnold sabendo do interesse dele pela ruivinha, mas não acaba como ela planejou, deixando-a ainda mais decepcionada. Ou quando ela tenta sabotar o encontro de Arnold e Laila no festival do queijo (episódio: Amor e queijo). 

Talvez, Arnold tente vê-la além da superfície e Helga sequer saiba, pois no episódio especial "A Peça do Colégio", quando ambos estão em uma fila de espera para pegar o lanche, uma coisa verde que parece ser gelatina mas tenho lá minhas dúvidas, Helga tem mais um de seus surtos e Arnold apenas responde para ela:

— Sabe, Helga, eu não sei por que você se comporta tão mal. Você se acha muito má, mas no fundo eu não acho que você seja. Aliás, eu tenho a impressão de que você é uma pessoa boa, normal e sensível, e, quem sabe um dia, você não vai ter tanto medo de mostrar isso. 

E nesse mesmo episódio, Helga faz de tudo para ser a Julieta da peça, somente para ter a oportunidade de beijá-lo, já que ele se dispôs a fazer o papel de Romeu, pois nenhum dos meninos aceitaram.

Bob e Mirian, pais de Helga e os piores pais que já existiram em um desenho animado, mantém toda a atenção e foco na primeira filha, a perfeita Olga, e por causa dos trejeitos de sua irmã e a bajulação dos pais em torno dela, Helga simplesmente a despreza, pois sente que é apenas uma sombra dela. A todo momento, seus pais confundem "Helga" com "Olga", o que serve para irritá-la ainda mais. Algumas vezes, Helga sabota a própria irmã para que seja tão infeliz quanto ela (episódio: Olga volta para casa), ou às vezes, sente ciúmes de Olga por passar tempo demais andando com Laila (episódio: Irmã mais velha).

Olga também é um outro caso à parte, e tudo o que ela faz, soa artificial ou forçado, sendo perfeccionista demais, como se quisesse a todo custo agradar aos outros, e no fim, mas assemelha-se à uma marionete controlada por seu pai. Quando ela falha, torna-se depressiva e melancólica, pois está sempre apta a vencer, sem nunca cogitar perder. Um comportamento muito interessante para estudar.

Agora, voltemos à Helga.



Por baixo daquelas várias camadas de truculência, existe uma poetisa gentil e uma garota que almeja ser amada, e ficamos mais a par de sua personalidade genuína no episódio O Pequeno Livro Rosa, onde é mostrado o caderno de poesias de Helga, onde ela escreve seus sentimentos mais íntimos e suas inspirações.

E, como sempre, o maior alvo de suas pegadinhas e brincadeiras de mau gosto é o ingênuo Arnold.

As oscilações de Helga por admirar Arnold, fazem-na ter um comportamento nada saudável, inclusive mantendo um boneco em seu closet, feito de restos de chicletes mascados por Arnold (não me pergunte como ela os coletou), adorando o souvenir como se fosse um mini deus. Ao longo da série, o souvenir vai trocando de forma, adaptando-se aos gostos de sua criadora. Além disto, Helga possui um medalhão dourado para quem desabafa suas lamúrias e frustrações.

E algumas vezes, Helga tenta conquistar Arnold usando de estranhos artifícios, como fingir que é francesa (episódio especial: Dia dos Namorados), ou que é uma garota sofisticada (episódio: Jantar Para Quatro), e falha em ambos, pois não está sendo verdadeira. Contudo, existem vezes em que ela ajuda Arnold, mesmo que tudo comece em conflito, mas logo no fim tem a impressão de que eles podem ser bons amigos, como nos episódios Amor de Verão e Biosquare. Há também o episódio Dia de Ação de Graças, em que os dois desabafam suas frustrações por suas famílias disfuncionais, mas acabam aceitando o fato quando percebem que a vida de seu professor é tão sofrível quanto a deles.

Em alguns momentos, Helga aprende a ter amor próprio e ama-se como é, assim como no episódio A Transformação de Helga, em que ela passa um sermão para as suas colegas em como elas ainda são crianças e deveriam parar de preocupar-se tanto com maquiagens e futilidades femininas, e aproveitarem aquela fase da vida delas.

No filme de 2018, Hey, Arnold! Na Selva - O Filme, Helga finalmente tem sua chance de revelar seus sentimentos a Arnold. Não estragarei a surpresa e muito recomendo o filme, pois ele encerra o seriado com chave de ouro, fechando todas as pontas que ficaram soltas, inclusive reservando bons momentos.

Enfim, Helga é uma personagem interessante para ser estudada. Não sou psicóloga, psiquiatra e nunca estudei psicanálise em minha vida, apenas achei interessante trazer à tona a personalidade tão complexa e conflitante dela.

 Vi em algumas entrevistas que o criador da série fez, Craig Bartlett, em que ele viu uma foto de quando Frida Kahlo era pequena e se inspirou para criar a aparência de Helga, e logo muitos passaram a endeusar a personagem, falando no quanto ela é perfeita e eu discordo. Helga não é perfeita. Ela é falha, cheia de defeitos, além de seus problemas com a raiva, e é isso que a torna interessante, porém, nunca devemos tentar imitar o seu modelo. Mas ainda assim, queria assistir um spin-off sobre ela, aprendendo a crescer, amadurecendo aos poucos, e tornando-se mais humana, além é claro, sendo gentil como quem nunca lhe fez mal: Arnold.
 

Comentários

  1. Anônimo18:03

    Hadouken!!!

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  2. Letícia18:04

    Muito fofo *-*

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  3. Melhor análise que já vi de um perfil de um personagem.

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  4. 'o' Minha personagem preferida. Sempre gostei dela apesar de não concordar com muita coisa que ela fazia.

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  5. Helga é um bom exemplo de tsundere.

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  6. Queria tanto ver vc analisando o novo filme da Cruella. Só pelo trailer já dá pra notar que vai ter muito louvor ao oculto.

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    1. Darei uma olhada assim que possível. Mas gastar mais 80 pilas no Disney + é sacanagem.

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  7. Btw, amei a sua análise sobre a Helga. Esperando mais análises maravilindas como essas no futuro.

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    1. Obrigada. Vou demorar um pouco na próxima.

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