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Livro: Anne da Ilha


Título original: Anne of the Island 
Autora: Lucy Maud Montgomery 
Páginas: 256 páginas
Editora: Ciranda Cultural
Ano: 1915
Sinopse: Decidida a realizar o seu sonho, Anne se muda para Kingsport e vai morar com sua amiga Priscila Grant para finalmente terminar seus estudos em Redmond College. Gilbert Blythe, desejando estudar medicina, também parte para Kingsport e enxerga a oportunidade de revelar seus sentimentos à Anne. O novo ambiente e a vida adulta trazem novos desafios e perdas que mudam as perspectivas e amadurecem a forma como ela enxerga o mundo.

👩🏻‍🦰🍂

Quero começar a resenha elogiando a escolha dos títulos que a Sra. Montgomery deu aos seus livros. A pequena Anne, de 11 anos, pertenceu inicialmente a Green Gables. Quando se tornou professora, ela representava a comunidade e, portanto, era de Avonlea. Finalmente, Anne deixou a Ilha do Príncipe Eduardo para ir para a faculdade na Nova Escócia, então ela agora representa a "Ilha". 

O terceiro livro se passa nesses quatro anos de faculdade que Anne frequenta, que não é parecida com a Queen's Academy, pois Anne não pode correr para casa nos finais de semana. Seu primeiro ano é passado em uma pensão, mas nos anos seguintes ela aluga uma casa adorável chamada “Casa da Patty” com algumas universitárias, incluindo a nova amiga Philippa Gordon, ou apenas Phil. O tema mais proeminente neste terceiro livro é o casamento. Espera-se que todas as meninas estejam noivas ou casadas, e Anne recebe sua cota de propostas, tanto românticas quanto hilárias.

Logo primeira página, senti que a escrita de Montgomery era visivelmente mais bonita do que no livro anterior. Ela descreve o cenário:

"O mar bramava alto ao longe; os campos estavam desnudos e murchos, salpicados de arnica; o vale do riacho que corria sob Green Gables cobria-se de flores de uma etérea cor púrpura e o Lago das Águas Reluzentes era azul, azul, azul; não inconstante azul da primavera, nem o azul pálido do verão, mas um azul límpido, imutável e sereno, como se a água superando todos as mudanças e tensões, houvesse pausado em uma tranquilidade impossível ser rompida por sonhos vãos."

Anne da Ilha foi difícil de largar. Nós, leitores, estamos todos pensando a mesma coisa: Será que Anne Shirley e Gilbert Blythe alguma vez conseguirão ficar juntos? Pois no final de Anne de Green Gables e durante todo o Anne de Avonlea eles se tornaram bons amigos. E é por isso que continuamos lendo. Se L. M. Montgomery quiser seguir o que os leitores querem e esperam (e ela segue e sempre seguiu), então podemos ficar felizes sabendo que Anne e Gilbert foram feitos um para o outro, mas como eles chegam lá — e todos os perigos que quase os impedem de fazendo isso — com certeza seu coração baterá forte e seus olhos ficarão marejados. Como resultado, Anne da Ilha é meu livro favorito desta saga. Até agora.

O ritmo do diálogo de L.M. Montgomery é quase perfeito. Anne conhece uma variedade de pessoas, que a autora captura com dialeto. Quando Anne vai dar aulas como substituta durante um verão em uma nova escola, ela é buscada na estação de trem pela Sra. Skinner, que chega com uma carroça carregada de malas de correspondência. Anne se encolhe e um capítulo inteiro é gasto com irritada Sra. Skinner falando sobre como ela se casou recentemente porque havia outro homem atrás dela. 

Por mais que o diálogo e o ritmo fossem excelentes e a história de amor me mantivesse lendo, havia uma série de coisas que me incomodavam. Por exemplo: este livro contém os quatro anos em que Anne está na faculdade. Mas nem uma vez aprendemos o que acontece em uma sala de aula ou sobre o que ela realmente estuda. É sempre, “ah, e o semestre voou e todos estudaram quase até a morte, e então chegou o intervalo e Anne voltou para Avonlea”. Claro, os personagens podem citar um professor, sobre as aulas que frequentou e o narrador podia mencionar que Anne está fazendo.

Na verdade, a série de Montgomery ganha vida através dos personagens, não de coisas mais intelectuais. A Sra. Rachel Lynde, cuja mandona é divertida, ainda está por perto e tentando ser útil. E Davy, o gêmeo endiabrado do livro anterior tem pouca participação aqui, o que foi um alívio.

Diana Barry também está por perto para ajudar nos sonhos de Anne. Quando Anne tem dificuldade em publicar uma história que escreveu, Diana entra em ação, submetendo a história a um concurso patrocinado por uma empresa de bicarbonato de sódio. Única regra: a história deve incluir o nome da empresa, neste caso o fermento em pó Rollings Reliable! Depois das mudanças na história de Anne, a mesma se sente tão miserável por sua história ter sido distorcida, e pior, ser o marketing de um fermento em pó, que Gilbert precisa intervir e lhe dizer que não ficou de todo o mal.

A nova personagem Philippa Gordon também é divertida. Ela é uma garota rica, quase mimada, que flerta lindamente com vários namorados, e é bastante exigente quanto a características físicas masculinas. Mas... será que ela conseguirá realmente exercer sua influência na Casa da Patty, onde as meninas devem compartilhar as compras, cozinhar e limpar? Phil nunca fez essas coisas! A vida “comum” a afeta:

Mesmo assim, houve uma série de páginas em que Montgomery permitiu que seus personagens fossem um bando de assassinos de animais. Um gato está preso em uma caixa e envenenado com clorofórmio, e oito páginas depois Anne está lendo uma carta de Davy (um dos gêmeos que Marilla está criando) que diz que seu vizinho tentou enforcar seu cachorro, mas não funcionou pela primeira vez, então ele fez de novo. Fiquei bastante perturbada com o quão casualmente todos falavam sobre era fácil matar animais quando Montgomery levou os leitores a acreditar que todas as plantas, pessoas, água e estrelas estão cheias de mágicas de fadas, embora seja uma coisa que está presa somente àquela época, pois nos dias de hoje isso seria algo inaceitável.

Por muito tempo, no Anne de Avonlea e Anne da Ilha, fiquei ressentida com o narrador por não ajudar os leitores a entender melhor por que Anne recusa o amor de Gilbert. Não é o rancor do “cenouras” do primeiro livro. O que é? Era preciso a maior parte do terceiro livro para realmente entender que Anne não quer que nada mude. E, ah, como isso soa verdade. Anne é pega no meio de pessoas se casando, morrendo e se mudando, e casas mudando de proprietário. Existe principalmente o medo de que outros estejam “crescendo” sem ela. Quando Anne está na Casa da Patty com suas amigas da faculdade, ela sente falta de Green Gables e vice-versa. Quando ela está com Gilbert, ela não quer o amor dele, quando Gilbert está com outras garotas, ela é instantaneamente má. As indecisões fazem parte da vida, pois Anne já não é mais criança e tampouco adolescente. Ela já é uma mulher adulta, e cada decisão que ela tomar, será refletida no futuro.

E ainda existe a figura polêmica de Roy Gardner, que sinceramente, ele nem fede e nem cheira pois alguns leitores sentiram ódio mortal pelo personagem, e eu simplesmente não me importei, pois sabemos que apesar dos esforços e da gentileza de Roy, Anne não conseguirá apaixonar-se completamente por ele.

Mas Gilbert espera pacientemente, como sempre fez. E realmente, ele é um bom amigo que convive com todo mundo; ele não se impõe a Anne ou ao espaço dela. E o resto da história destes dois teimosos vocês precisam testemunhar com seus próprios olhos. 

A única reclamação que tenho a fazer é que de toda a série, este é o único livro que quase não carrega notas de rodapé, o que eu achei um tanto lamentável, pois adoro as notas explicando as referências literárias da Anne.

Anne da Ilha é meu livro favorito da série, mas outra vez, até agora. L. M. Montgomery não perdeu seu humor atrevido, seus personagens realistas ou sua capacidade de criar uma história de amor que aquece o coração.





Sobre a autora: Lucy Maud Montgomery nasceu em 30 de novembro de 1874 em Clifton, Canadá, lugar que serviu de cenário para sua primeira obra Anne de Green Gables. Sua mãe faleceu quando Lucy era bebê, e o pai a entregou aos seus avós maternos, porém, aos 7 anos, ele retornou para buscá-la. Ela cresceu sozinha, e isso fez com que tivesse bastante tempo para imaginar e criar diversas histórias. Em 1890, publicou seu primeiro texto em Charlottetown. Faleceu em 24 de abril de 1942, em Toronto, Canadá.




O livro foi comprado por mim. 💙 Não é um livro parceria.



Comentários

  1. tudo de bom para vc San :>) x-)

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  2. AMEEEIIII.
    Amo a série de livros Anne de Green Gables.

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  3. Vc faz falta, Sammy 😭😭💔

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  4. Perfeitoooo. Esperando pelo resto da saga da Anne.

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  5. Cê tá fazendo falta. Tá fazendo falta. Cê tá fazendo falta.

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  6. Amo essa saga. Acompanhar a Anne desde pequena, até adulta e casada mãe de 6 filhos é tão emocionante. Queria um livro com ela sendo avó.

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