Pular para o conteúdo principal

Como sobrevivi às amizades tóxicas



Dia das Crianças está chegando, e junto a esta data, lembranças nada agradáveis. Não consigo sondar em minha mente uma boa recordação que seja acerca de minha infância, ou de uma amizade que tenha sido saudável. E hoje contarei, ao longo de minha vida, como fui cercada por pessoas que somente fizeram-me mal. Gostaria muito de escrever minha análise sobre o filme "A Era do Gelo" de 2002, e como encontrei alguns momentos legais naquela animação, porém, necessito relatar o que passou-se comigo, para que caso você, você mesmo que está lendo isso, consiga desvencilhar-se das amarras. 

Sempre fui uma pessoa que buscava agradar aos outros, mesmo que isso significasse passar por cima de tudo o que eu acreditava. Por causa disto, acabei por tornar-me alvo de pessoas que somente queriam beneficiar-se com meu lado ingênuo. Caí em armadilhas e amizades extremamente tóxicas, como as que irei relatar aqui. Aviso de antemão que este artigo ficará longo. Mucho texto à frente. 

Quando eu era criança e estava na primeira série (sei que agora mudou como é chamado, ao que parece, primeira série tornou-se o segundo ano, porém, raios sou da velha guarda e chamarei de primeira série), digamos que eu era uma criança de aparência diferente das demais meninas. Eu não tinha os cabelos sedosos, ou mesmo uma boa aparência. Eu era magrela e de coluna curvada. Sequer minha mochila acompanhava as tendências daquela época. Digamos que meus excêntricos pais sempre gostavam de vestir-me como se eu fosse um menino. Aos meus sete anos, enquanto as outras meninas tinham mochilas e sandálias da Barbie, eu tinha um par de tênis do Sonic. Todos tiravam sarro de mim por conta disso. Uma vez, um garoto perguntou-me: "você é mesmo uma menina?". Aquilo foi uma facada nas minhas costas. Algum tempo depois, briguei com aquele menino, e acabei perdendo (óbvio, por ele ser mais forte). 

Sério, eu sempre tornava-me alvo de alguém por não ser nada bonita. Porém, quando haviam trabalhos escolares, todos queriam que eu fizessem por eles. E eu, a idiota por atenção, a tola ansiosa para ser aceita por todos, aceitava com um sorriso no rosto, para mais na frente, lavar-me em lágrimas.

Na segunda série (relevem, sou das antigas), uma menina chamada B, que eu tinha por amiga somente pelo fato dela sentar-se ao meu lado, certa vez riu de um penteado novo que a minha mãe havia feito. Eu sempre usava tranças ou rabo de cavalo. Mas naquele dia, implorei para que a minha mãe fizesse pigtails 一 se acaso não sabe o que é, dê um Google aí 一, porém, como não tínhamos muito dinheiro, mamãe deu um jeito de amarrar meu cabelo com algumas tiras de tecido jeans. Quando B viu aquilo na minha cabeça, gargalhou de forma escandalosa, puxou os meus cabelos, e quando a professora saía de vez em quando da sala, B fazia suas zombarias para que os outros dessem risada de mim. Tudo o que mais desejei, foi que aquele dia de aula passasse o mais rápido possível. Sei que chorei muito quando cheguei a tarde em casa. Menti para minha mãe e nunca mais atrevi-me a usar pigtails. Continuei falando com B, porque tinha medo de perder sua "amizade", mesmo que isso significasse aguentar suas zombarias e piadas que fazia a respeito de minha aparência.

 Na terceira série, existia uma menina que era minha vizinha que chamarei-a por L para evitar problemas e preservar a sua identidade. A pedido de minha mãe, L passou a acompanhar-me no caminho da escola, e era terrível. Brigávamos o tempo todo, chegando ao ponto de nos surrarmos no caminho para casa. Isso acontecia porque simplesmente L não gostava de mim. Tratava-me mal, dava-me apelidos grosseiros, e eu não engolia sapos. 

Sempre terminávamos indo na porta da casa de uma ou outra para pedir "desculpas". Por que coloquei entre aspas? Porque eram desculpas da boca para fora. Depois das férias, L arranjou um novo grupo de amigas, e acabou por esquecer-me. Fiquei grandemente aliviada. Porém, passei a ir para a escola sozinha, enfrentando um caminho longo e deserto, sombreado por árvores centenárias. E aquele seria o meu trajeto solitário que duraria até a oitava série.

Na quarta série, fiquei amiga de R. Sentia de todo o meu coração que aquela seria uma amizade, que enfim R seria uma boa amiga, mas logo o meu mundo veio abaixo quando R, sem razão alguma, ofendeu-me na frente de um monte de gente.

Tudo começou quando houve uma festa junina na escola. Eu detestava aquilo de todo o coração, e apenas participava para ganhar nota. Lembro-me que foi pedante e um verdadeiro desastre. No final da festa, no fim da tarde, quase dando seis e trinta (18h30), meu horário limite para voltar para casa, implorei para que R me acompanhasse, pois eu tinha medo de ir sozinha para casa. E aquela tarde estava realmente escura e fria, e ainda haviam boatos de que por aquelas bandas existia um maníaco. Eu era muito medrosa, admito. Contudo, R estava vendo uma apresentação fastidiosa de "Dança Portuguesa". Perguntei outra vez, se ela poderia ir comigo, e ela disse uma frase que eu nunca me esquecerei. Pode passar-se anos, mas esta maldita sentença nunca se apagará da minha cabeça:

一 Estou atrás é de macho, não é de mulher.

Sinceramente, não sei o que se passou na cabeça dela para dizer tamanha parvoíce. Oh, crianças de onze anos devem dizer bobagens com frequência, não é mesmo? Não. Eu sempre pensava mil vezes antes de abrir a minha boca e dizer algo. Fui embora para casa, sozinha, enfrentando uma rua de chão de terra escura e silenciosa, com lágrimas nos olhos que turvavam a minha visão, e o único som que eu escutava eram as batidas rápidas do meu coração, com medo de olhar para trás ou para os lados. A partir daquele dia, afastei-me de R. Obviamente, ela nunca precisou de mim, pois nunca sentiu minha falta. Estava ocupada demais atirando-se para os meninos da classe.

Mas, deve estar pensando: "não houve uma só amizade que fosse verdadeira?"

Bom, até que aconteceu. Foi logo na quinta série. K era realmente uma menina legal. A amiga perfeita. Assistíamos 3 Espiãs Demais que passava na falecida TV Globinho, e quando chegávamos na escola falávamos sobre o episódio, enquanto ríamos e fingíamos no intervalo que éramos as espiãs do desenho. Na quinta série, não houveram amigos tóxicos, mas houveram professores tóxicos. E a pior delas foi a professora de Ciências/Artes (porque o colégio falido sobrecarregava os professores com duas ou três matérias que eram leigos em lecionar). E essa professora quase tornou a minha vida, na quinta série, miserável.

Estávamos fazendo ou tentando fazer, vasos de argila no pátio da escola, e todos, digo TODOS os alunos estavam rindo e conversando super alto. No entanto, vindo do nada, essa professora histérica, que já era uma senhora de 66 anos, e acredito eu, que estava estafada por cuidar de tantas matérias ao mesmo, simplesmente foi em minha direção, e com uma voz autoritária, carregada de tremeliques e rispidez, gritou para mim:

一 Não vai te calar? Ou eu vou ter que encher essa tua boca de argila?!

Se ela tivesse dito isto, nos tempos atuais, meus amigos, teria levado um processo daqueles, além de ser afastada e ter seu registro como professora, cancelado. Seria assunto em Trending Topics da vida do site do passarinho azul, e levantariam hashtags contra a professora abusiva. Contudo, eu silenciei-me, e baixei a minha cabeça. K até tentou me fazer sorrir, quando esculpiu um boneco de neve de argila propositalmente torto, mas eu estava destruída naquela hora. Todos ainda olhavam em minha direção, e davam risadinhas, imitando a ameaça da professora direcionada à mim.

K foi embora no ano seguinte, levando para sempre sua boa amizade. Oh, céus. Creio que vou chorar nesse trecho. K sempre será uma amiga especial para mim, e ainda não me perdoo por ter perdido contato com essa criatura tão angelical.

Passado isso, mal me dei conta e já estava na sexta série. E com o novo ano, surgiram as velhas amizades tóxicas. Fui aceita em um grupo de três garotas, mas duas delas eram extremamente, hãm, como eu posso dizer... nojentas, falsas, repugnantes? A e H agiam como se fossem parte de alguma realeza doentia, passavam o tempo todo falando mal da aparência dos outros, do jeito de andar dos outros, do sorriso dos outros, às vezes, falavam mal delas mesmas quando uma não estava na presença, enquanto eu e L (essa é outra L, não é a mesma da terceira série), éramos seus capachos reais. E por que nós nos submetíamos a isto? Ora, porque A e H aceitaram duas meninas feias e sem graça para a sua corte. Não podíamos desperdiçar a chance de sermos "amigas" das garotas mais badaladas da escola. No começo, A e H forçaram-no a usar maquiagens, pois não gostavam de nosso rosto "cru". Eu detestava aquilo, mas fazia. Depois, passaram a criticar nossas roupas, e sem demora, tiravam sarro de mim porque eu nunca havia beijado ninguém antes.

Quando fiz um trabalho em dupla na casa de H, a mocinha não poupou facas para desferir sobre os aspectos físicos de L. Dissera que ela era alta demais, parecia um tiranossauro, que comia de boca aberta, e que ela fedia. Eu escutava tudo aquilo, sentia uma enorme vontade de morrer, pois eu sabia que ela também falava mal de mim. Mas aturava tudo calada, porque eu era idiota e queria ser aceita por ela. No fim, eu acabei saindo do grupo, e passei a andar com os meninos, que eram bem menores do que eu, pois eles gostavam de Pokemon e eu também.

Na sétima série, R também ficou na mesma turma que a minha, mas se pensas que ela ao menos olhava na minha direção, engana-se. R tratava-me como se eu fosse invisível para ela. Houve uma vez em que ela pediu uma borracha emprestada, mas nem nesse momento ela teve coragem de olhar na minha cara. Ela estava muito ocupada sendo amiga de T, uma novata pela qual todos os meninos da turma babavam. Adolescência, hormônios à flor da pele, captou a mensagem, certo?! T era uma convencida de meia-tigela, e tinha um nariz extremamente empinado. Literalmente. Ela não gostava de mim, e eu soube disso no momento em que ela pôs os pés na sala de aula e olhou-me de cima abaixo, julgando a minha aparência, pois eu era o completo oposto dela. Eu era feia e ela era linda. T estava disposta a pisar-me. Quando eu fiquei gripada, eu tossi sem querer, e mesmo com o lenço sobre a minha boca, a tosse saiu alta e "quebrada" (se já ficastes gripado, sabes do que estou a falar). T aproveitou aquele momento de descuido meu, para dizer em voz alta na sala, para que todos ouvissem.

一 Credo! Que menina porca! Tem ir para o chiqueiro, não para uma escola.

Todos riram de mim, todos louvaram T por seu sublime e superior senso de humor. Oh, louvem a rainha. 😒

Quando aconteceu uma pequena peça no colégio, a turminha de amigas VIP's da T apresentaram-se com modelitos emprestados por ela mesma. Vestidos exageradamente lindos para uma irrelevante peça escolar da sétima série. Enquanto eu, bom, ela deu-me uma camisa velha de botões, que eu acho que até o pano de chão da minha casa estava em melhores condições. Todas brilhavam na peça, enquanto eu, fiquei no meu canto, vestindo a camisa horrorosa por cima do meu uniforme de escola. Recitei as minhas falas, da forma mais automática possível, e ainda ganhei nota. Não havia o que reclamar. Havia sim! Me deram uma roupa ridícula para vestir. Faltou apenas um nariz de palhaço. 🤡 

Oh, mas houve uma vez em que por pouco T não provou o gosto do meu punho... Mas isso é outra história. Só posso garantir que por causa dessa quase briga, T passou a tratar-me um pouco melhor, embora já fosse tarde demais e eu estivesse farta dela e de tudo o que ela havia me feito.

Na oitava série, não houveram amizades tóxicas e nem amizade de nenhum tipo, pois averiguando todos os anos anteriores, em como fui usada e humilhada, decidi focar-me nos meus estudos, pois em breve eu estaria no Ensino Médio e queria ir para uma boa escola. Sentava sozinha, lanchava sozinha, ia para a casa sozinha. Foram dias tristes e esquecíveis, e muitas vezes meu coração traiu-me enquanto eu ansiava ter alguém do meu lado...

Se o ensino fundamental I e II foram regados a amizades tóxicas, isto não encontrei no Ensino Médio. Fiz realmente boas amizades por lá, porém, eu estava quebrada o suficiente para não confiar mais em ninguém. Exceto, a fulana da qual já citei no blog que tentou separar-me do meu namorado. Esperava que alguém pudesse ver os cacos do meu coração e colá-los.

Quiçá, eu tenha sobrevivido a todas essas amizades tóxicas. Foram provas e tribulações. Porém, todas elas marcaram-me de formas cruentas e dificilmente serão apagadas de minha memória.

Através desse artigo vocês puderam conhecer um pouco do que eu passei. Em alguns momentos, chorei enquanto o digitava, pois são recordações bem difíceis de se lidar para mim.

Bem, essa foi a minha trajetória. Daria um belo roteiro de novela (eu acho 🤷🏻‍♀️, sei lá... vai saber). Houveram algumas coisas que ficaram de fora, como da vez em que eu quase quebrei a cara de T, mas talvez eu conte isso algum dia, mas por hora preciso ouvir uma boa música para afastar esses sentimentos sombrios que retornaram após eu resgatar tantas más memórias. Não leve-me a mal.

Creio que tenha alguns erros na postagem, pois sou disléxica, e não, isso não alguma forma de desculpa esfarrapada, eu já havia dito isto antes também no blog (sete anos atrás), e mesmo eu revisando atentamente o artigo, algum detalhe sempre passará despercebido aos meus olhos.

Recentemente, escutei a música da cantora Sia, Unstoppable, e de repente passei a gostar muito dela. A melodia é incrível e a letra representa-me muito.

Tem uma outra postagem minha, mais amena, sobre o mesmo assunto. Clique aqui para ler.

Quem quiser ouvir, está aqui embaixo. Então, é isso. Bye!





Comentários

  1. Fiquei bem triste com seus relatos, pq também sofri bullying e muito tempo sofri calada

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não fique triste. Aos poucos, Jesus vai curando outra vez meu coração.

      Excluir
  2. Espero que mais pessoas possam ler seu post e se inspirar a nunca abaixar a cabeça

    ResponderExcluir
  3. Se tem uma coisa que eu aprendi foi logo a chegar na voadora nesses tóxicos do caramba. 😡😡😡
    Mentira, sou uma florzinha. Não mato nem mosca.
    Tava com saudades do seu blog.
    Não nos abandone de novo. 😭😭

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É bom estar de volta. Não prometo que ficarei para sempre, mas ao menos, sinto-me melhor por aqui. Como eu disse outrora, foi o meu primeiro cantinho.

      Excluir
  4. Todo dia é uma prova. Sei que Deus nunca desampararia uma filha sua. u também fingi muitos sorrisos para nunca mostrar minhas lágrimas. Essas eu mostrava apenas a Deus.

    ResponderExcluir
  5. Espero que você esteja melhor agora.
    Torço pela sua melhora.

    ResponderExcluir
  6. Essa música da Sia... Simplesmente perfeita.
    🤭🤗😻🤭🤗😻
    E que Deus te guarde das pessoas falsas, amiga.

    ResponderExcluir
  7. Eu acho que já teria desistido dessa escola nos primeiros dias. Como conseguiu suportar tanta gente falsa?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho que na época eu não percebia a maldade que havia nelas, porque eu queria ser aceita por elas. Anos depois, eu fui analisar que elas não eram minhas amigas, e que a amizade delas era algo doentio.

      Excluir
  8. Já passei por uns maus bocados assim... só Jesus na causa.

    ResponderExcluir
  9. Acho que em algum momento das nossas vidas iremos sofrer bulliyng. Estou feliz por saber que vc está bem e q superou isso. Eu n sei se aguentaria ...

    ResponderExcluir
  10. que professora escrota essa sua. credo.

    ResponderExcluir
  11. A menina que te chamou de porca... Eu tinha dado um soco na cara dela, na moral. Podia até ser suspensa, mas eu dava um socão a lá One Punch nessa quenga.

    ResponderExcluir
  12. Você é uma guerreira.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Deixe seu comentário. Adoraria saber a sua opinião. 😍

Postagens mais visitadas deste blog

"Koe no Katachi", uma voz silenciosa que achega ao coração.

"A Menina que Roubava Livros" - resenha 10 anos depois

Livro: Boneca de Ossos

Livro: Pigmalião