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Não há nada de errado com Susana Pevensie



Nota: todas as citações de capítulos foram retiradas das As Crônicas de Nárnia - Volume Único.

Existe uma certa polêmica que predomina a Internet há algum tempo, sobre em como C. S. Lewis foi injusto com Susana. Os que apontam tal defeito chamam isso de "O problema com Susana". Eu, por outro lado, creio que não exista nenhum problema com esta personagem e a forma como ela foi concebida foi exatamente como o autor quis passar. 

Eu amo As Crônicas de Nárnia. Eu acho que é um dos maiores exemplos de literatura infantil. Mas há uma crítica sobre Nárnia que eu acho simplesmente boba: que deixar Susana fora do A Última Batalha é sexista. Isso é risível para mim. No geral, C. S. Lewis sempre criou suas personagens femininas com muito respeito.

Muitas vezes, elas parecem sensatas, inteligentes, corajosas e (no caso de Lúcia que foi quem descobriu Nárnia sozinha) o modelo de fé e honestidade. Mas ao mesmo tempo ele nunca as apresenta como perfeitas. Ele sempre as faz ter falhas a serem superadas. Ele faz isso com seus personagens masculinos também. Afinal, C. S. Lewis era um cristão e acreditava firmemente na pecaminosidade do homem e na necessidade de alguém maior do que nós para ser nossa salvação. Pessoas que deliram que Susana não estava na Última Batalha seletivamente esquecem que havia 3 mulheres presentes na história.
Susana sendo deixada de fora na Última Batalha era parte de seu arco. Sua tendência de querer se comportar de maneira adulta foi estabelecida em O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa. Lewis narra que Susana ficou irritada com a defesa de Lúcia pelo Professor Kirke porque ele não estava "agindo do jeito que ela achava que os adultos deveriam agir". Ela foi a última pessoa a ver Aslam no Príncipe Caspian. Além disso, o Sr. e a Sra. Pevensie levaram Susana para a América com eles porque ela agia como "uma adulta" e era mais madura que seus outros irmãos. Faz sentido que, uma vez que ela retornou ao nosso mundo, ela deliberadamente se esqueceu de Nárnia, tal como acordamos e esquecemos de um sonho, e se comportou como uma adulta superficial. De muitas maneiras, ela é o que Eustáquio teria se tornado se não tivesse se transformado em um Dragão e aprendido o que era humildade. 



Imagine o seguinte cenário: nós, que estamos cercados das facilidades que a Internet e a tecnologia nos proporciona, também ficamos acomodados e, muitas vezes, facilmente nos desviamos dos Caminhos do Senhor, pois não queremos abrir mão de nossos bens materiais. Para Susana, não foi diferente. Seus olhos estavam mais voltados ao mundo, ou como é dito nos livros, "para as coisas de adulto". 

Sempre que eu lia os livros das Crônicas de Nárnia, eu sentia que Susana era a única de seus irmãos que não se encaixa na situação. Ela apenas os seguia por ser a mais velha e se sentir responsável por eles, e não porque ela gostava daquele mundo. Era como se ela estivesse sendo levada pela maré. 

Honestamente, sinto que a personagem Susana recebe muito mais atenção do que merece. Sempre que as pessoas criticam os livros de Nárnia por serem sexistas, elas sempre fazem um grande alarde sobre Susana porque ela é facilmente a personagem feminina mais estereotipada de Nárnia, tanto em suas virtudes (maternal, não quer ferir os sentimentos das pessoas) quanto em seus vícios (não tem muita resistência, é fixada em coisas materiais). Mas isso ignora o fato de que Susana não é a personagem feminina mais proeminente de Nárnia. Mesmo nos livros em que ela aparece, ela tem um papel bastante secundário e nada proativo. (Aquele em que ela é a mais importante para o enredo, O Cavalo e seu Menino, ela realmente aparece em apenas uma cena.) Se você contar todas as personagens femininas proeminentes que não são particularmente estereotipadas (Lúcia, Jill, Aravis, Polly), ela realmente parece insignificante em uma análise final.


E mesmo no que diz respeito aos estereótipos femininos, ela não é tão extravagante. Ela alegar que Nárnia não existe parece loucura, mas tenha em mente que há uma tradição literária de personagens infantis que esquecem ou se recusam a reconhecer suas experiências mágicas passadas ao atingir a idade adulta. 

Deparei-me com o pensamento — sem fonte confiável, no caso — de que C. S. Lewis escreveu Susana do jeito que fez porque ele se viu em seu arco. Foi apontado que ele próprio perdeu muitos de seus companheiros em uma idade semelhante, e ele não se tornou o apologético cristão que pensamos quando pensamos em C. S. Lewis até mais tarde na vida.


Então, em vez de condenar as Susana's, (aquelas que sabem o que é certo, mas têm muito medo de falar), ele dá mais tempo a ela. O pensamento de que Susana ecoa a jornada de Lewis tornou isso um pouco menos especulativo e mais, OH, para mim.

Embora não haja nada em A Última Batalha em si para prenunciar ou explicar a rejeição de Susana a Nárnia, eu sempre senti que TEM SIM muitos prenúncios disso em alguns dos livros anteriores. Lembro que não fiquei nem um pouco surpresa quando li A Última Batalha pela primeira vez e descobri como Susana tinha se tornado uma jovem adulta. Não está escrito descaradamente, mas os avisos estão definitivamente lá nos livros anteriores e são bem claros se você estiver alerta a cada um deles.

Logo de início, em  O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, Susana é mostrada como a menos aventureira das quatro crianças. Quando estão todos em Nárnia e descobrem que o Sr. Tumnus foi levado pela polícia secreta da Feiticeira Branca, a reação instantânea de Susana é:


" [...] — Acho que não é muito seguro... e pode até não ter graça nenhuma. E depois, está ficando cada vez mais frio, e não temos nada para comer. Vamos para casa?"  (página 128)


É natural que ela se preocupe com a segurança deles, com o tempo frio e com o fato de não terem nada para comer — Pedro ecoa as mesmas preocupações alguns parágrafos depois — mas Susana parece ser a mais inclinada a desanimar mais depressa e recuar ao primeiro sinal de perigo. Isso contrasta totalmente com sua irmãzinha, Lúcia, que vê imediatamente que é por causa dela que o Sr. Tumnus foi capturado e que eles têm a obrigação moral de tentar resgatá-lo. A falta de coragem de Susana não é uma falha enorme — não em comparação ao egoísmo, à ganância e à traição de Edmundo — mas ainda é uma falha que precisa ser corrigida antes que ela cresça, e, diferentemente das falhas de Edmundo, ela não é corrigida conforme a série avança.

Em Príncipe Caspian, isso fica muito mais forte. Vemos um pouco da relutância de Susana em matar ou machucar qualquer coisa ou mesmo fazer alguém parecer ruim (como Trumpkin quando ela o vence na competição de arco e flecha), e isso não é uma característica ruim em si — na verdade, é muito positiva nas circunstâncias certas. Mas conforme a história avança, fica mais claro que a natureza gentil de Susana não é temperada com coragem, resiliência e disposição para se manter firme pelo que é certo, novamente em contraste com Lúcia. A própria Lúcia é tímida demais para argumentar, muito menos para sair sozinha, quando ela brevemente vê Aslam no desfiladeiro e os outros não acreditam nela, mas quando ela encontra Aslam novamente, ele lhe dá a força interior que ela precisa para ser capaz de acordar os outros e persuadi-los a segui-la. É aqui que eu acho que vemos mais claramente a própria falta de coragem mais profunda de Susana e a maior dica de que ela pode um dia rejeitar Nárnia completamente.

Está fortemente implícito que, neste caso, a capacidade deles de ver Aslam depende do grau de fé e confiança nele — Lúcia primeiro, depois Edmundo (o único que estava disposto a acreditar em Lúcia no desfiladeiro), depois Pedro, mas Susana e Trumpkin não o veem até que estejam quase no fim da jornada. Trumpkin, é claro, sempre foi um cético, mas ele nunca conheceu Aslam antes e suas dúvidas são honestas; Susana CONHECE Aslam e tem muito menos desculpas para sua falta de fé nele aqui. Sua admissão a Lúcia, depois que ela vê Aslam, é muito reveladora:


"— Mas sou muito pior do que você pensa. Acreditei que era ele... acreditei ontem mesmo... quando ele não queria que fossemos pelo pinhal. E acreditei também hoje, quando você nos acordou. Isto é... no fundo acreditei... Ou podia ter acreditado, se quisesse... Mas estava com tanta pressa de sair da floresta... e... não sei como vou explicar. O que eu vou dizer a ele agora?" (página 364)


Há ainda mais prenúncios no que Susana diz a Aslam quando ele fala com ela:


"Depois de um silêncio terrível, disse com uma voz grave: — Susana. — Susana não respondeu, e pareceu aos outros que estava chorando. — Você deixou que o medo a dominasse. Venha, deixe que sopre sobre você. Esqueça seus receios. Está melhor agora?"

— Um pouco, Aslam — disse Susana." (página 364)





Aslam não culpa Susana nem demonstra qualquer raiva por sua fraqueza, apenas aponta que sua falha foi ter "ouvido os medos" e oferece a ela a força para esquecê-los. Ele já tirou a timidez de Lúcia e deu a ela "força de leão" quando, em seu próprio momento de fraqueza e dúvida, ela enterrou o rosto em sua juba. O hálito de Aslam, como vemos em outros livros, tem o poder de trazer estátuas de pedra de volta à vida e carregar Eustáquio e Jill em segurança pelo mar até Nárnia. Mas quando ele oferece esse mesmo hálito a Susana, tudo o que ela pode dizer é que isso a tornou "um pouco" mais corajosa. Bem onde sua falta de coragem moral poderia realmente ter começado a ser curada, é quase como se ela não estivesse deixando que isso fosse curado. É essa resistência, essa recusa em abandonar dúvidas e medos e a tendência de pensar mais em seu próprio conforto do que em fazer a coisa certa, que eu acho que realmente sinaliza que Susana já está em perigo de cair — que estar em Nárnia, estar na presença de Aslam, não está tendo o efeito sobre ela que poderia e deveria ter, se ela apenas deixasse.

Também há indícios de que Susana tem uma tendência a tentar ser "adulta", o que nem sempre reflete bem sua maturidade espiritual. É bem natural que, como a menina mais velha e a segunda mais velha de seus irmãos, ela tente assumir um papel maternal em relação aos outros às vezes. Novamente, essa é uma boa característica se for feita com sabedoria. Mas está implícito que Susana já está desenvolvendo uma ideia de ser "adulta", o que significa não acreditar em coisas que, com base em suas próprias experiências anteriores em Nárnia, ela realmente deveria  acreditar, ou pelo menos estar aberta a acreditar. Quando Lúcia vê Aslam e os outros não, o cético "Onde você acha que o viu?" de Susana é imediatamente rebatido por Lúcia com "Não fale como um adulto". Quando Lúcia tenta acordar seus irmãos naquela noite para dizer a eles que Aslam está aqui e eles precisam segui-lo, somos informados:


"Voltou-se para Susana, que acordou mesmo, mas apenas para dizer, com o ar aborrecido de um adulto: — Vá dormir, Lúcia. Você deve estar sonhando." (página 359)


Para ser justo, Susana acabou de acordar inesperadamente depois de um dia muito longo e difícil, mas rejeitar a conversa de Lúcia sobre Aslam como "sonho" — e falar isso com "ar de adulto" — não indica que é outro prenúncio do que aprendemos sobre ela em A Última Batalha, eu não sei o que é! (E é em total contraste com Edmundo, que fica muito mal-humorado por ter sido acordado, mas assim que ouve o que Lúcia tem a dizer, sua reação é "Aslam! Puxa vida! Onde ele está?" Novamente, Edmundo teve falhas morais muito piores do que Susana já demonstrou, mas a diferença é que ele deixou Aslam redimi-lo completamente. Susana, não.



Há mais uma dica séria que posso pensar, em  A Viagem do Peregrino da Alvorada, em que não vemos Susana pessoalmente, mas ouvimos um pouco sobre ela ter "sempre sido a bela da família" — a ponto de Lúcia realmente ter ciúmes dela, como percebemos quando ela quase lança aquele feitiço do livro mágico. Essa é a própria fraqueza moral de Lúcia aparecendo ali, é claro, mas sugere fortemente que, à medida que as duas meninas crescem, é Susana quem está sendo admirada cada vez mais por sua aparência, a ponto de isso estar se tornando mais significativo para ela do que qualquer outra coisa. Já nos foi dito no início do livro que a razão pela qual Susan foi para a América com seus pais é que:


"Como era bem desenvolvida para a sua idade e não tinha grande queda nos estudos, a mãe dissera que ela "aproveitaria muito mais uma viagem à América do que os outros mais novos". (página 404)


Então, dados todos esses avisos, honestamente nunca achei chocante ou mesmo surpreendente que a última coisa que ouvimos sobre Susana, no último livro, dito pelo próprio Pedro é que ela "não é mais amiga de Nárnia":


"— É verdade — completou Eustáquio. —  E cada vez que se tenta conversar com ela sobre Nárnia ou fazer qualquer coisa que se refira a Nárnia, ela diz: "Mas que memórias extraordinárias vocês tem! Continuam no mundo da fantasia, pensando nessas brincadeiras tolas que a gente fazia quando era criança".

— Oh, Susana! — disse Jill. —  Agora só pensa em lingeries, maquiagens e compromissos sociais. Aliás, ela sempre foi louquinha para ser gente grande.

— Gente grande, pois sim — disse Lady Polly. — Gostaria que ela  crescesse de verdade. Quando estava na escola, passava o tempo todo desejando ter a idade que tem agora, e agora vai passar o resto da vida tentando ficar nessa idade. Tudo em que ela pensa é correr para atingir a idade mais boba da vida o mais depressa possível e parar aí o máximo que puder." (página 708)


É uma reviravolta muito triste na história — e que poderia ter sido evitada se Susana tivesse deixado Nárnia ter tanto efeito sobre ela quanto teve sobre seus irmãos — mas honestamente não acho que podemos dizer que nós (e ela) nunca fomos avisados.

Também deve ser notado que quando o Sr. Castor  menciona o nome de Aslam pela primeira vez, todas as crianças têm uma reação a ele, mas a de Susana é menos intensa e visceral. Sua reação é a mais passiva e superficial, enquanto todas as outras são uma reação a algo que se agita dentro delas, a de Susana é uma reação a algo externo. Além disso, Susana é quem sacia o desejo de Lúcia de informar Edmundo sobre o que Aslam fez por ele, mostrando que, embora sua preocupação com os sentimentos de Edmundo seja válida, ela não entende bem o poder e a importância do sacrifício de Aslam (embora se presuma que Edmundo descubra eventualmente). 

     Também me pergunto se, ao fazer com que a maturidade e a superficialidade de Susana sejam a base para sua rejeição de Nárnia, C. S. Lewis esteja se referindo a Mateus 8:18, que diz: "Em verdade vos digo que, a menos que vocês se convertam e se tornem como crianças, nunca entrarão no reino dos céus". 

Mesmo que não seja esse o caso, acho que seu raciocínio para a rejeição de Nárnia por Susana também é um reflexo de sua própria jornada na vida.

“Quando eu tinha dez anos, eu lia contos de fadas em segredo e teria vergonha se fosse pego fazendo isso. Agora que tenho cinquenta, eu os leio abertamente. Quando me tornei um homem, eu deixei de lado as coisas infantis, incluindo o medo da infantilidade e o desejo de ser muito adulto.” Palavras do próprio C. S. Lewis.

     Talvez seja aqui que esteja o fim não escrito da jornada de Susana.  

     Acho que deixar a história dela aberta à especulação acrescenta realismo e nuance que não estariam lá se ele tivesse amarrado tudo em um laço perfeito com todos vivendo felizes para sempre, e se torna um problema para alguns porque ela é uma garota aparentemente condenada por gostar de "coisas de garota". Teria havido um clamor se Edmundo ou Eustáquio tivessem recebido o mesmo final? Definitivamente, mas por razões completamente diferentes. E acho que é aí que a tragédia do destino de Susana é esquecida porque estamos tão presos na parte do "batom e meias-calças". Ela é uma das que ficaram com Aslam na caminhada até a Mesa de Pedra, ela estava lá para vê-lo morrer, ela foi uma das duas únicas testemunhas da ressurreição de Aslam e da quebra da Mesa de Pedra, e ainda assim ela dá as costas para Nárnia. 

  Deveríamos estar tristes e perturbados não porque ela é uma menina e não porque ela é muito interessada em batons, meias-calças e festas — deveríamos estar perturbados porque ela testemunhou algo tão poderoso, algo que salvou a vida de seu irmão, mas, diferentemente de Edmundo, ela rejeitou. No entanto, enquanto Lewis escreve Susana como rejeitando Nárnia, ele também lhe dá esperança porque Aslam também tem poder em seu mundo. Lewis recebeu uma carta de uma criança perguntando sobre o porquê de ele ter escrito Susana daquele jeito, e ele respondeu: 

Não porque eu não tenha esperança de que Susana chegue ao país de Aslam, mas porque tenho a sensação de que a história de sua jornada seria mais longa e mais parecida com um romance adulto do que eu queria escrever. Mas posso estar enganado. Por que não tentar você mesmo?



       Com essa citação em mente, acho que também é importante lembrar que Nárnia não foi a única obra de C. S. Lewis, nem aquela em que ele mais se concentrou. Ele passou cerca de dez anos escrevendo a série inteira, então a terminou e passou para outras coisas. Ele escreveu o que sentiu que tinha que escrever, e é incrível que tenhamos terminado com sete livros, já que ele quase declarou a série "terminada" várias vezes (uma vez depois de O Leão, A Feiticeira, e o Guarda-Roupa, e depois de Príncipe Caspian e Viagem do Peregrino da Alvorada). Lewis é conhecido por várias outras obras além de Nárnia (Cristianismo Puro e Simples, Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, etc.). Tolkien, por outro lado, passou quase vinte anos no Senhor dos Anéis e O Hobbit, que são cheios de belas escritas e construção de mundo rica, extremamente detalhada e intensa — o resultado de quase uma vida inteira de trabalho. Coletivamente, também é a obra mais famosa de Tolkien, e com razão. No entanto, é de se perguntar o que Lewis poderia ter feito e teria feito com Nárnia, a história de Susana ou as histórias de outros personagens se tivesse passado quinze ou vinte anos em Nárnia em vez de dez.  

     C. S. Lewis também morreu aos sessenta e quatro anos (a uma semana de completar sessenta e cinco), enquanto Tolkien viveu até os oitenta e um, continuando a expandir seu mundo. Li em algum lugar que Lewis estava trabalhando em revisões das Crônicas de Nárnia na época de sua morte. É de se perguntar que outras revisões Lewis teria feito e que outras obras teria escrito se tivesse vivido mais. Talvez ele tivesse encontrado a motivação para escrever uma história de redenção para Susana, ou talvez tivesse continuado a deixá-la em aberto. Como alguém que gosta de escrever, posso simpatizar com Lewis não sentir que tinha as ideias, o plano ou a motivação para escrever um romance tão profundo. Eu certamente não gostaria que ele se obrigasse a terminar a história de Susana e produzisse uma história banal e malfeita que não faria justiça a ela (e potencialmente perderia a oportunidade de escrever suas outras obras), somente para agradar algumas pessoas que ficaram tristes demais para entender a profundidade da jornada desta personagem.

Já vi muitas fanfics tentando "consertar" Susana, fazendo-a se reunir com seus irmãos no último livro da saga, de alguma forma, dando-lhe uma espécie de "salvação", e eu acho isso tão raso! Não há nada de errado com Susana. Nunca houve. E se não acredita em mim, basta dar uma olhada em como a personagem foi construída ao longo dos livros. Talvez, o problema não esteja em Susana, mas sim, em quem aponta este tipo de "problema".

Acho que no final também nos resta imaginar o que exatamente afastou Susana de Nárnia, ou melhor, a levou a se convencer de que esse outro mundo (onde ela realmente reinou por anos e anos como uma rainha!) era apenas uma brincadeira boba de infância. Não tenho a impressão de que foi algo em particular que o desencadeou, mas sim um processo gradual que já podemos ver começando nos livros anteriores. Mas, como o próprio C. S. Lewis escreveu a um jovem leitor, "ainda há muito tempo para ela se recuperar, e talvez ela chegue ao país de Aslam no final — do seu próprio jeito". O que sempre senti que ela talvez tenha feito.

No mais, o que jamais devemos esquecer é que: Quem é coroado rei ou rainha de Nárnia, será sempre rei ou rainha.



Comentários

  1. Olha o nível de pesquisa e escrita ❤️❤️❤️ passa um mês sumida e é só pedrada atrás de pedrada.

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  2. Acho a atriz da Susana parecida com a moça que fez o filme A Substância.

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  3. Menina do céu, quanta sabedoria nesse seu post! Encontrei seu blog pelo post das Crônicas de Nárnia se era um livro cristão.

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  4. Tenho também mais um ponto a acrescentar: no começo do Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa, Edmundo fala pra Susana "olha só quer agir igual a mamãe". O amadurecimento de Susana é superficial. Ela quer parecer adulta, mas por dentro é só uma criança sem fé.

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  5. Que coisa gostosa de ler.❤️

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