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Livro: Boneca de Ossos



Título original: Doll Bones
Autora: Holly Black
Páginas: 220 páginas (versão brochura)
Editora: Novo Conceito sob o selo #Irado
Ano: 2013
Sinopse: Poppy, Zach e Alice sempre foram amigos. E desde que se conhecem por gente eles brincam de faz de conta – uma fantasia que se passa num mundo onde existem piratas e ladrões, sereias e guerreiros. Reinando soberana sobre todos esses personagens malucos está a Grande Rainha, uma boneca chinesa feita de ossos que mora em uma cristaleira. Ela costuma jogar uma terrível maldição sobre as pessoas que a contrariam. Só que os três amigos já estão grandinhos, e agora o pai de Zach quer que ele largue o faz de conta e se interesse mais pelo basquete. Como o seu pai o deixa sem escolha, Zach abandona de vez a brincadeira, mas não conta o verdadeiro motivo para as meninas. Parece que a amizade deles acabou mesmo... Mas, de repente, Poppy conta para os amigos que começou a ter sonhos com a Rainha – e também com o fantasma de uma menininha que não conseguirá descansar enquanto a boneca de ossos não for enterrada no seu túmulo vazio. Então, Poppy, Zach e Alice partem para uma última aventura a fim de ajudar o fantasma da Rainha a encontrar o seu descanso eterno. Mas nada acontece do jeito que eles planejaram... A missão se transforma em uma jornada de arrepiar. Será que a boneca é apenas uma boneca ou existe algo mais sinistro por trás desses fatos? Poppy está mesmo dizendo a verdade ou tudo isso não passa de um truque para que voltem a brincar juntos? Se existe mesmo um fantasma, o que vai ser das crianças agora que elas estão nas suas mãos?



👩🏻‍🦰👦🏻👩🏻🪆


É difícil resumir este livro sem dizer muito ou pouco. Há um mistério nisso, um ar assustador e sinistro trazido por uma boneca de porcelana que pode ou não estar viva, e pode ou não ser feita para a carne e o sangue de uma menina de verdade. Assustador, certo? 

Existem três amigos, Zach, Poppy e Alice. Poppy acredita que está vendo o fantasma de Eleanor e deve enterrar a boneca ou sofrerá uma terrível maldição. Alice acredita que Poppy está inventando tudo. Zach está dividido entre os dois, sem saber em que acreditar. Os três amigos partem em uma viagem sem supervisão, determinados a viver uma última aventura antes de superarem a infância, enquanto ainda têm tempo para acreditar.

A essência, o cerne deste romance, para mim, é a presença da infância. Holly Black captura perfeitamente crianças no auge, prestes a superar a infância e adentrar a temível adolescência.

Ela capta os pensamentos de uma criança que não está pronta para se desapegar, mas sabendo que já estava começando com...


        "Ele não esperava dizer essas palavras até que saíram de sua boca, mas parecia certo... Era por isso que Zach adorava brincar: aqueles momentos em que parecia que ele estava acessando algum outro mundo, um que parecia real como qualquer coisa. Era algo que ele nunca quis desistir. Ele preferia continuar jogando assim para sempre, não importa quantos anos tivessem, embora não visse como isso era possível. Às vezes já era difícil."
(pág. 8)


E as "alegrias" da puberdade de uma forma deliciosamente descritiva...


   "Naquele verão passado, a coisa misteriosa que esticava outros garotos como chiclete começou a acontecer com Zach."
(pág. 23)




As dificuldades de encarar a realidade enquanto a inocência é perdida...


   "Ele se perguntou se crescer era aprender que a maioria das histórias acabava sendo mentira."
(pág. 70)



O conhecimento da forma como os amigos mudam e se distanciam, e a dor da separação, e a recusa em admitir que estão crescendo...


   "Eu posso ver você mudando... Você vai ser um daqueles caras que sai com seus companheiros de equipe e sai com líderes de torcida e não se lembra como era inventar coisas. E você... Você vai ficar muito ocupada pensando em meninos e fazendo testes para peças da escola e sei-lá-o-quê para se lembrar. É como se vocês dois estivessem esquecendo tudo. Vocês estão esquecendo quem vocês são. Eu achei que isso iria lembrá-los." (Página 178)



A dor total de perder tudo o que torna a infância tão especial, não me admira que Peter Pan nunca tenha desejado crescer!


   "Não é justo. Tínhamos uma história, e nossa história era importante. E eu odeio que vocês dois possam simplesmente ir embora e participar da minha história com vocês e nem se importar. Eu odeio que vocês possam fazer o que quiserem. Eu deveria fazer isso e eu não posso. Odeio que vocês me deixem para trás. Odeio que todo mundo chame isso de crescimento, mas parece que estou morrendo. Parece que cada um de vocês está sendo possuído e eu sou a próxima."
(pág. 179)


Bonecas de Ossos vai ao cerne do que significa crescer. As crianças que passam pela mesma coisa na vida podem se identificar com a incerteza da mudança, enquanto os leitores mais velhos podem relembrar a dor de passar de uma fase da vida para outra. Perdemos algo quando escapamos da infância e entramos na realidade. A infância é verdadeiramente especial, mas nunca sabemos o quão especial é até que ela passe.

Existem também alguns problemas sérios à espreita à distância. Poppy, Alice e Zach têm experiências familiares muito diferentes. 

As crianças não percebem que têm pais negligentes... elas podem ser incrivelmente felizes em situações horríveis. Foi de partir o coração ler sobre isso. Igualmente difícil é uma situação que envolve um amor difícil, querer forçar uma criança a crescer rápido demais. Ou o trabalho árduo de uma criança que perdeu os pais e como a ideia de fantasmas pode dilacerá-la. 

Cada uma dessas crianças passou por muita coisa e todas serão moldadas em seu futuro pelas experiências que estão passando agora. É um pensamento sombrio porém, muito verdadeiro. Crescer é doloroso, mas faz parte da vida.



Eu também adorei o quão imaginativas essas crianças eram. Poppy me lembrou muito de mim quando eu era pequena, especialmente nesta passagem:


   "Poppy parecia nervosa. Ela era boa em inventar histórias, mas nem sempre era boa em aceitar as coisas que ele e Alice inventavam, não importa o quão incrível fosse. Demorou um pouco para ela aceitar um universo sobre o qual não tivesse controle completo." (Página 124)



Ninguém gostava de brincar de boneca comigo também. Um perigo de ser uma contadora de histórias, eu acho. Sempre tive a história delineada na cabeça e ficava muito brava se alguém se desviasse dela!

Há também algumas ilustrações lindas, e foi uma pura alegria ler Boneca de Ossos. As frases eram muitas vezes tão amáveis, profundas ou verdadeiras que eu só queria pegá-las e guardá-las em meu coração.

Infelizmente, a edição de Boneca de Ossos que comprei na Feira do Livro na minha cidade veio com alguns rasgões nas páginas, e em algumas páginas, as letras estavam quase que completamente apagadas, e isso atrapalhou um pouco a leitura.


Tragédia? Mistério? História de fantasma? Dores de crescimento? O amargo adeus à infância? Sobre o que exatamente é Boneca de Ossos? É muito difícil escolher apenas um gênero para este livro. É completamente fundamentado na realidade, mas também tem reviravoltas e nuances fantásticas que fazem os leitores se perguntarem, adivinharem e continuarem virando as páginas.

Sobre a autora:  Holly Black (10 de novembro de 1971, West Long Branch, Nova Jersey, EUA) é autora best-seller de mais de trinta livros de fantasia para crianças e adolescentes, como As Crônicas de Spiderwick que ganhou uma adaptação cinematográfica homogênea. No Brasil, seus livros O canto mais escuro da floresta e Zumbis x unicórnios foram lançados pela Galera Record. Ela atualmente vive na Nova Inglaterra com seu marido e filho numa casa com uma biblioteca secreta. Seu trabalho mais recente é a série O Povo do Ar.




O livro foi comprado por mim. Não é um livro parceria.



Comentários

  1. Esse livro é muito bom. A amizade deles é maravilhosa.

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  2. Li na escola uma vez. Me arrependi de nunca ter terminado 😿😿😭😭

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