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Livro: Orgulho e Preconceito


Título original: Pride and Prejudice
Autora: Jane Austen
Páginas: 240 páginas (versão brochura)
Ano: 1813
Sinopse: Elizabeth Bennet vive com sua mãe, pai e irmãs no campo, na Inglaterra. Por ser a filha mais velha, ela enfrenta uma crescente pressão de seus pais para se casar. Quando Elizabeth é apresentada ao belo e rico Sr. Darcy, faíscas voam. Embora haja uma química óbvia entre os dois, a natureza excessivamente reservada de Darcy ameaça a relação.


❝Um homem solteiro e rico precisa de uma esposa. 
Eis uma verdade reconhecida universalmente.❞


Trago hoje, no Dia da Mulher, um dos grandes clássicos do romance de todos os tempos. Não exagero quando enuncio tal coisa. Orgulho e Preconceito foi escrito em 1813, por Jane Austen, e tenho ela como uma autora muito querida, e quando digo que nenhuma autora de nosso século atual pode comparar-se à ela, não exagero. Austen escrevia em uma veia que tremulava entre o ácido e o sarcástico. Sua escrita não pode comparar-se a mais ninguém, e seria extremamente presunçoso, e, até mesmo, arrogante de nossa parte, compará-la a qualquer autora que escreve Romance Histórico ou Ficção Histórica em nossos dias atuais.

Austen nunca precisou apelar para a sexualidade, ou como dizem nas más línguas, cenas hots, para conceber a ideia de seus livros. A mocinha nunca é mostrada como indefesa ou frágil, ou que vive nas nuvens a pensar em um homem, justamente o contrário. Elas são verdadeiramente fortes, não como o estereótipo que foi mastigado por dezenas e centenas de vezes nos livros atuais. Suas heroínas tinham voz, fibra e, acima de tudo, uma personalidade excepcional, e quando leio sobre elas ー quer seja sobre Emma, Lizzy ou Elinor ー, sinto como se eu estivesse lendo e mergulhando na história de uma pessoa real, e isso muito me alegra. De alguém, que mesmo entre erros e várias falhas, continua buscando forças e concretizar seus objetivos. 

Os heróis masculinos de Austen nunca são vistos como salvadores de suas mocinhas, ou uma espécie de troféu, uma recompensa por toda a jornada pela qual a protagonista sofreu, ou alguém que a mudará, mas é visto como um igual, uma pessoa que estará ao seu lado, aprendendo a conviver com ela da forma como a mocinha é. Eles também possuem seus defeitos e receios, e nunca são descritos como sendo homens perfeitos e inalcançáveis. 

Austen escrevia sobre a pureza da vida, sobre a benevolência do amor, sobre o comportamento da sociedade perante mulheres que não eram abastadas, sobre valores já há muito perdidos. Acima de tudo, escrevia sobre pessoas com imperfeições e qualidades.

Queriam perdoar-me por esta exacerbada nota inicial. É que sinto-me frustrada quando testemunho que outras escritoras são comparadas sem mais ou menos, a esta escritora tão brilhante que fez-me retornar à leitura e sentir prazer em desfrutar da leitura outra vez. Adentrei em uma ladeira em que li livros na qual mulheres eram tratadas como lixos, onde coisas abomináveis eram glorificados, em que a relação carnal era posta acima de sentimentos verdadeiros. Descrições de coito sendo arrastadas por páginas e mais páginas, apenas para disfarçar a pobreza da trama. E isso só se agravava com a escrita infeliz e vazia de tais "autoras". Não as citarei pois não quero dá relevância para este tipo, e ao invés disto, prefiro falar sobre o que é íntegro e agradável.

Existe uma razão para a qual Jane Austen seja reconhecida mundialmente e seus livros serem apontados como clássicos. E, isto, é uma coisa que ninguém tirará dela.


Orgulho e Preconceito pode ser considerado como sendo a sua Magnum opus. Uma obra da qual você ler e presencia o amor e a dedicação por trás de cada ponto e letra. 

Somos apresentados à família Bennet, composta pelo Sr. Bennet, pela Sr. Bennet, por Jane, Elizabeth, Lydia, Mary e Kitty. 

O maior sonho da Sra. Bennet é casar todas as cinco filhas com bons partidos. E isso a torna a personagem mais irritante de toda a trama. Also, a Sra. Bennet é a personagem mais engraçada de todo o livro. Viu?! É sobre isso ao qual me refiro quando digo sobre os personagens humanizados de Austen. Ela tem o poder em transformar um personagem que nos faz sair fumaça pelos ouvidos (ao menos, comigo foi assim), em uma caricatura interessante. 

Por causa de sua impulsividade em casar as filhas, a Sra. Bennet não mede esforços praticamente jogando Jane nos braços do tímido e rico, Sr. Bringley. 

O livro foca-se principalmente nas duas irmãs mais velhas, Jane e Elizabeth, sendo Jane uma moça bondosa, quase perfeita, descrita como um anjo puro, que procura vasculhar a bondade seja ela escondida na alma mais sombria. E Elizabeth, ou Eliza ou Lizzy para os mais íntimos, uma garota de pensamento mordaz que não poupa julgamentos antecipados, muitas vezes, acabando por decepcionar-se quando erra em sua concepção precipitada, ganhando uma rivalidade unilateral com orgulhoso Sr. Darcy.

Os caminhos de Elizabeth e do Sr. Darcy se cruzam em um baile, e a jovem tem seu orgulho ferido porque Darcy confessa para o Sr. Bringley que não a acha suficientemente bonita para tentá-lo (atraí-lo). Um comentário que poderia passar despercebido aos ouvidos, porém a mocinha retém uma mágoa pelo rapaz, e não perderá oportunidades em alfinetá-lo ao longo do livro.

❝Mas também lhe asseguro que Lizzy nada perde por não lhe encher os olhos, pois ele é uma criatura desagradável e horrível, com quem não vale a pena gastar o latim. 
Que arrogância e presunção!❞ 
(Página 13) 


Ocorrem muitas outras desventuras no livro, e enquanto lia, percebesse que Lizzy e Darcy (cujo primeiro nome é Fitzwilliam) não tem qualquer motivo para repelirem-se tanto, e é maravilhoso ter que ler pela milésima vez a cena em que Darcy é rejeitado por Lizzy, por ter tido a audácia em estragar o relacionamento de Jane e do Sr. Bringley. E diferente do filme, cuja cena foi filmada na chuva, aqui temos Lizzy e Darcy muito mais íntimos, conversando em uma sala diante de uma lareira. 


❝— Desde o princípio, desde o primeiro instante em que o vi, posso afirmá-lo que suas maneiras me convenceram de que era um homem arrogante, pretensioso e que devotava a maior indiferença pelos sentimentos alheios. Essa impressão foi tão profunda que constituiu, por assim dizer, o alicerce sobre o qual os acontecimentos subsequentes elevaram uma indestrutível antipatia. 
E ainda não o conhecia há um mês e já estava convencida de que seria o senhor o último homem no mundo com quem convenceriam a casar.

— Não precisa acrescentar mais nada, minha senhora. Compreendo perfeitamente seus sentimentos e nada me resta senão envergonhar-me dos meus. 
Perdoe-me ter tomado seu precioso tempo e aceite meus mais sinceros votos de felicidades.❞ 
(Página 123).


 Enquanto eu lia as passagens das discussões de ambos, apenas uma aflição crescia em mim, desejando para que eles dois abandonassem seus julgamentos precipitados e vissem que ali, perante eles, estava a oportunidade para que se casassem e fossem felizes.

Mas, a frieza de Darcy e a grosseria de Lizzy fizeram com que os dois trilhassem um longo caminho até perceberem o que sentiam um pelo outro. 

O foco do livro não é no romance que arranca suspiros. O foco dele é no desenvolvimento dos personagens, em suas personalidades contrastantes, e em como devem abrir mão de seus preconceitos que tanto os cegam. Sobre personagens teimosos, que por um orgulho tolo, recusam-se a enxergar o amor que está bem a frente do seu nariz.

Outras mídias: Orgulho e Preconceito tornou-se um filme para TV, uma adaptação reimaginada que ninguém pediu com zumbis (não recomendo nem para o meu pior inimigo), e obviamente, o mais famoso de todos, o filme lançado em 2005, que é 98% fiel ao material original, estrelado por Keira Knightley, mas acredito que de todas as adaptações, a minissérie de 1995 da BBC, estrelada por Jennifer Ehle e Colin Firth é a minha favorita, e tem um lugar especial em meu coração, tanto pelo cuidado com o roteiro quanto pelo carinho que tiveram na adaptação da obra. Jennifer Ehle é a Elizabeth Bennet definitiva.




Sobre Jane Austen: nasceu em 1775, Hampshire, na Inglaterra. Começou a  escrever muito jovem e é considerada a primeira romancista moderna da literatura inglesa. Filha de pastor anglicano, ela nasceu e passou a infância na área rural de Steventon, interior da Inglaterra, palco de Orgulho e Preconceito. Semelhante à Elizabeth Bennet, heroína do livro resenhado, Jane também era a segunda filha de uma família numerosa. Sua irmã mais velha era a sua melhor amiga. 

Teve a oportunidade em testemunhar o comportamento da aristocracia, seus valores e a posição em que a mulher era relegada, principalmente porque a educação era privilégio para poucos. Com uma vasta biblioteca à sua disposição, Austen teve amplo contato com a literatura escrevera seu primeiro manuscrito aos dezessete anos de idade. Aos vinte e um anos, já era considerada um sucesso.

Morreu solteira, aos quarenta e um anos. Em seu epitáfio, na catedral de Winchester, está escrito: "Ela abriu a sua boca com sabedoria e em sua língua reside a lei da bondade".

(algumas citações foram retiradas do livro, e reunidas com minhas ideias.)







O livro foi comprado por mim. Não é um livro parceria.






Comentários

  1. ❤❣💕💞💗💖💝💟💌

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  2. Amo demais esse livro.

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  3. Um dos melhores livros (e consequentemente filme) que já vi.

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  4. Rainha absoluta do romance. Podem existir 300 escritoras de Romance Histórico, nenhuma delas chega à unha do dedo mindinho da Rainha Austen. Como você mesma escreveu: "Descrições de coito sendo arrastadas por páginas e mais páginas, apenas para disfarçar a pobreza da trama." Te amuh!!

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  5. Orgulho, preconceito e zumbis é uma desgraça de ruim. Não assistam essa bomba.

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  6. Lembro que a minha professora da sexta série recomendou esse livro (da forma mais preguiçosa possível) e logo perdi o interesse. Mas depois desta resenha vou dá outra chance..

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  7. A forma como vc escreve... 💕💕💕 só venero.

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  8. Titia Austen está orgulhosa desta postagem. ❤💙❤💙

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